SER PASSIVO À CRUELDADE?
Quem se acha evoluído, jamais poderá não sentir pressa...
Se o já gasto ditado por vezes usado por alguns que se dizem anti-tourada, de que "Roma e Pavia não se fizeram num dia" lhes chega para sossegar o conformismo, aplaudindo a performance de vermes humanos com demonstrações patéticas em arenas sem ferros, ou em pegas de caras, de cernelha, largadas e outras demonstrações ridículas que apenas convencem de falaciosa inocência os omissos que passam mais ao largo do stress e do sofrimento alheio, aguardando no seu conforto que a abolição das touradas aconteça através de quem luta e se manifesta incansavelmente, dando a cara sem medo, abordando e exigindo explicações a quem de direito e gritando bem alto a sua revolta, jamais poderá contribuir para que os animais sujeitos a estas práticas aberrantes, deixem de ser abusados, ou possam esperar que a incoerente complacência de muitos, se transforme algum dia em activismo.
Qualquer espectáculo que inclua animais é, por si só, um acto bárbaro e indigno e quem o apoiar, ou simplesmente admitir, é conivente com a falsidade dos argumentos que o classifica como tradicional, artístico e até pedagógico.
Das acrobacias cretenses sobre bovinos, desvirtuadas mais tarde em práticas bem mais cruéis, implantadas em alguns países europeus que posteriormente as proibiram, subsistem ainda as práticas tauromáquicas, no sul de França, Espanha e Portugal.
Com as migrações saídas destes dois últimos para as Américas, compostas por comunidades pouco alfabetizadas e bouçais, os espectáculos tauromáquicos, entraram nesse continente, mas se por lá, o dorso dos touros é protegido, para que não sangre com os ferros, a violência está bem patente na frustração da assistência sanguinária que contrasta com a contestação e os protestos dos americanos mais esclarecidos, em manifestações no exterior dos recintos.
Os portugueses do continente, respaldados por uma fé fictícia e a ambição que o seu escasso território, virado para o mar lhes negava, bem como os seus compatriotas açorianos, tornaram-se quase gente importante noutras terras, levando com eles a língua e o dialecto, mas também a cega ambição de singrar na vida e a saudade das suas terras, alicerçada em tradições obsoletas e grotescas, próprias de uma escolaridade rudimentar e do eterno atraso em que cresceram.
São esses descendentes de açorianos incultos e bouçais que se adaptaram como peixes na água nos estados hoje chamados Sta Catarina e Rio Grande do Sul e de cujas ilhas, Pico, Faial e mais tarde da Terceira, entreposto comercial das naus que transportavam as riquezas extorquidas nas Américas que muitos partiram, habituados à criação de gado, à miséria, aos cataclismos naturais e ao trabalho braçal que levaram para o Brasil a "Farra do Boi" e outras práticas de maltrato animal, hoje consideradas bárbaras e inadmissíveis, mas que subsistem apesar das proibições locais.
Erradicar a violência, seja ela qual for e de que forma for exercida, deveria ser incumbência de quem se diz evoluído, mas essa mini evolução, passa geralmente pela aceitação comodista de qualquer prática de ocasião e pela crítica a quem a contesta.
Os espectáculos tauromáquicos que ao longo de cerca de 300 anos da nossa história, sofreram avanços e recuos, com a bula papal do Papa Pio V no século XVI apenas cumprida durante o curto reinado do Cardeal D. Henrique, mas logo desrespeitada, pois a falsidade da Igreja, sempre ligada ao capital, não olha a meios para atingir os seus fins, continuando ainda hoje essas práticas obsoletas nas festas e romarias em honra dos seus santos, bem como a alimentar-se de avultados negócios, como acontece com as Misericórdias, grandes apoiantes do lobbie tauromáquico e com uma certa burguesia endinheirada, sem que haja coragem nem por parte do Vaticano, nem dos sucessivos governos manipulados por interesses económicos de as proibir, já que a existência de comunidades incultas, ignorantes e exploradas, favorece o poder e fortalece-o.
O falso domínio do homem sobre a "fera" e a dantesca visão dos animais torturados, é a compensação oferecida às frustrações das comunidades mais brutalizadas e menos esclarecidas, incapazes de vislumbrar que a imensidão dos dinheiros públicos esbanjados lhes é extorquida, para favorecer classes sociais parasitas e moribundas.
Enquanto o medo de intervir tolher essa faixa um pouco mais consciente da nossa sociedade e as novas gerações forem treinadas para a passividade, ou levadas a aceitá-la como um inevitável dado adquirido, tão visível em comentários vazios de conteúdo, opiniões descontextualizadas e amplamente lidas nas redes sociais, a mudança das mentalidades permanecerá apenas como um fóssil de vontades tremulas, mas vazias de intenções...
Enquanto a cultura não for um sério compromisso de quem a ministra e se permitirem educadores retrógrados, cuja falta de sensibilidade e ignorância os torna instrumentos perfeitos desse sistema lobista, tão inculcado no nosso povo, jamais Portugal estará livre da corrupção e desse atraso civilizacional onde o medo cala as vozes e reduz as inteligências a simples ideias subdesenvolvidas, padronizadas, rotineiras e medíocres.
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