Tenho uma certa dificuldade em definir a palavra "feminismo", porque me parece limitar-se apenas à defesa de um sexo, em detrimento do outro, contudo, a enorme desigualdade e descriminação que ao longo dos séculos, tem rotulado as mulheres de todo o mundo, como seres sem alma nem direitos, usadas e abusadas por ideologias retrógradas, imorais e injustas, talvez me façam unir forças a essas hostes "feministas", defendendo aquelas cuja voz calaram pela violência e o medo, obrigando-as apenas a subsistir num mar revolto de ameaças, dores e morte.
As agressões físicas e as marcas por elas causadas, são o que melhor denunciam o percurso de uma relação familiar ou amorosa, mas embora as cicatrizes persistam, mesmo que a memória as teime ressuscitar, em momentos do passado, ou ainda presentes, há um outro sofrimento mudo e latente, como uma braseira de fogo lento abanada por palavras cruéis e destruidoras que minam diariamente os alicerces de egos já de si frágeis e vulneráveis, decompondo e anulando sonhos, projectos e esperanças, num labirinto de sentimentos sem dia nem noite que culminam num fosso profundo e permanente, aligeirado por antidepressivos e químicos que apenas permitem dias iguais e noites em claro...
A manipulação psicológica, é a mais difícil de definir e até entender, porque humilha, trai e engana, reduzindo a pó a lúcida percepção das realidades, da auto estima e do respeito, numa espiral de dúvidas e total anulação do ser.
A violência psicológica é surda, sorrateira e perversa, porque domina e destrói lentamente, transformando seres lúcidos e inteligentes em marionetas movidas por fios invisíveis que dificilmente se quebram, mas cujas lembranças se vão enrolando num papel tão fino que rasga ao mais ténue estremeço.
A resignação é o que sobra a quem não quer, não pode, ou não consegue virar o jogo, mas que se enfrenta sem atenuantes nem medo, entendendo finalmente que a sua anulação matou o amor, a cumplicidade e o seu próprio futuro.
Em Portugal, a violência doméstica, foi finalmente reconhecida, desmascarada e exposta, mas ela corre nas veias dos "marialvas" que usam a mulher como um objecto imprescindível ao seu conforto, heróica parideira sempre disponível aos seus desejos e trabalhadora sempre submissa e incansável .
O Estado sempre se alheou aos dramas de uma sociedade que deveria proteger, porque a economia precisa de mão de obra barata, ao mesmo tempo que a protecção das agredidas dá despesa e abre os olhos às que se querem caladas, mas os tempos são de mudança, embora os guetos de ignorância teimem subsistir e se alimentem de um faz de conta abjecto que pouco já cola aos mais esclarecidos.
Não podem haver segundas chances para quem maltrata e se a justiça falha, como tão bem sabemos, faça-se a justiça na rua, no voto, no dia a dia e sempre, porque nem a Bíblia, nem qualquer juiz farsante, nos poderão mais calar.
Eu lutei sozinha, quando era normal ser-se submissa e venci!