A irritação é algo que há muito me ataca perante as tropelias que vejo neste meu país.
Mais de 60 pessoas morreram, outras lutam pela vida e mais de uma centena perdeu os seus lares.
O presidente vai dando abraços e mais uma achega à sua próxima campanha de "afectos", o governo explica o inexplicável, culpando os raios, o vento, o São Pedro e até talvez os velhos das reformas miseráveis que já só dão prejuízo ao Serviço Nacional de Saúde, enquanto as finanças vão sacando o IVA às chamadas solidárias, das quais ignoramos o rumo do maior bolo.
Botam também palavra as Misericórdias para mais pedincha, enquanto as suas dúbias receitas parecem ser insuficientes para tudo, menos para os amigos, como aconteceu na Madeira o ano passado e nos anteriores por cá, onde as promessas pouco se cumpriram.
Mandam-se os psicólogos para mostrar que os temos e que são tão bons que só com duas palavras acabam logo com os traumas, porque pobre não pode dar-se a luxos e se teimarem, será responsabilidade de quem os tem e a farmácia trata do resto, porque a indústria farmacêutica também precisa.
Estou com vómitos!
Ardeu o decoro, a vergonha e como sempre, sobrevive a irresponsabilidade, a imputabilidade e as justificações pouco convincentes.
Os estudos sobre a protecção e preservação das nossas florestas apodrecem nas gavetas de um qualquer ministério há anos e através dos vários governos culposos que escaparam impunes, tal como acontecerá com a actual ministra da Administração Interna, cuja incompetência pensou conseguir disfarçar, empertigando-se na primeira fila da tragédia, para o boneco das televisões vendidas.
Bravo, o país das bananas conseguiu enfim virar manchete no mundo, à custa da desgraça alheia!
Venham os peditórios, as missas e as cerimónias fúnebres!
Venham as promessas e boas intenções já com barbas, porque também elas se escoarão com as primeiras chuvadas de Outono pelas valetas sujas das estradas, até às sarjetas entupidas das nossas cidades alagadas.
Venham as eleições autárquicas e a manipulação das gentes, porque até lá, as vítimas continuarão vítimas à mercê de quem se esqueceu já dos seus nomes e dos seus rostos...
Venham as estatísticas dos mortos que apenas permanecerão na memória de quem os chora, porque o terror por que passaram, ficou apenas pelos números das suas campas, num qualquer cemitério ventoso.
E quando regressar de novo o calor, neste país cada vez mais pobre e nu, comemorar-se-á o dia das florestas e lá estarão com um sorriso nos dentes, os nossos políticos sem vergonha plantando uma árvore moribunda que ninguém irá regar, para que os meninos das escolas apreendam como a hipocrisia e a desfaçatez conseguem sustentar a incompetência e os interesses institucionalizados!