Memórias de Fel com Açúcar
Hoje precisava mais uma vez escrever-te!
E o "mais uma vez", não são apenas três palavras ao acaso, mas sim a saudade e o eterno sentir que escondo, no pedacinho mais fundo do meu ser.
25 de Julho de 1983
Foi o dia da nossa despedida e o ano que marcaria cada sopro da minha existência atribulada.
Vivemos o medo, a descrença, a esperança e a tua dor física resignada que nem a Ciência, nem os meus cuidados e carinhos curaram!
Foste o meu eterno bebé rosado, perfeito demais para o mundo perverso onde chegaste, naquele Agosto de 1980, com os teus imensos olhos da cor da noite, o sorriso fresco e os teus cabelos negros cacheados que a doença fez perder e a tua silhueta frágil que resistirá na minha memória, até ao dia do nosso eterno reencontro.
Esqueceremos então as tuas e as minhas dores e repetirei mil vezes o nome que escolhi para ti e que tu abreviavas, por ser difícil demais pronunciá-lo, na tua linguagem atrapalhada.
- Ágata...!
E então, não mais existirá, nem a doença, nem o medo do "adeus",nem esta saudade atroz que me consome e que apenas embrulhei num papel fininho que teima romper-se, nas noites vazias e que conserto em cada manhã, para se voltar a rasgar durante os meus sonhos e memórias.
Voltarei a escutar a tua voz pequenina, como quando te beijava a face tenra e me apertavas as mãos para que não me afastasse, mas foste tu que partiste, como sempre soubeste que seria, varrendo os meus sentimentos, porque precisavas de voar mais alto e ensinar-me que a vida nos atraiçoa a cada esquina e que é preciso transformá-la, mudando de rumo e ver o que nos escondem, apagando a luz persistente da passividade e da ilusão .
Mudaste tudo, quando partiste!
Mudaste-me a vida e corrigiste-me o passado, mostrando-me outros rumos e verdades que não queria antes enxergar e transformando tudo em inabalável força e coragem para combater fracassos, de espada em riste, porque ser mulher e mãe, é ser maior, carregar o mudo nos ombros e avançar, com ou sem medo, mas com certezas!
Até um dia, Agui!