Perante o abate massivo de pombos na via pública através de um "chamariz" e lançamento de comida, ao que se segue o lançamento de uma rede sobre as aves que comem e um spray de gás venenoso que as deixa em sofrimento, para que depois sejam recolhidas e amontoadas moribundas para destruição, levantaram-se várias vozes contra esta prática cruel e desumana.
As petições públicas, são sempre a tentativa de solução para a revolta de quem se sente violentado por qualquer acontecimento e descuidadamente, sem muitas vezes se prestar a devida atenção, assinam-se e só depois nos apercebemos de que entrámos num logro sem possibilidade de retrocesso.
Aconteceu-me isso, quando revoltada com a crueldade da Câmara Municipal de Lisboa, me precipitei, assinando uma petição que entre muitas opiniões, sugeria o seguinte:
- "Reforçar as campanhas de sensibilização especialmente quanto à proibição de alimentos a pombos na via pública (que faz aumentar a população destas aves).
- Reforçar as coimas e a eficácia da fiscalização contra a alimentação de pombos na via pública."
Quem acha bem que se ande pelas ruas das nossas cidades, de fiscais a tiracolo, como cães farejadores prontos a filar o primeiro incauto, decerto não sabe o que diz, ou está está hipocritamente feito com este sistema caduco e desonesto em que vivemos.
Por outro lado, quem assim fala e acha que multar a torto e a direito é uma boa prática de cidadania, porque decerto não deve ter vivido no nosso antigo regime ditatorial, em que até para se ter um isqueiro era obrigatório pagar licença, ao mesmo tempo que "grupos de duas pessoas" em certas ocasiões, eram dispersados e os participantes identificados de imediato pela polícia.
Num país de miséria, em que uma amiga minha muito idosa que mal sai de casa por ter graves problemas de mobilidade, foi chamada 3 vezes a tribunal pelo crime de alimentar pássaros na sua varanda e condenada a entregar a sua curta pensão de sobrevivência para pagar multas, quem sugere o reforço de coimas, não é mais que um criminoso à solta, feito com o injusto sistema em que vivemos, ou se assim não for, talvez tenha pousado por cá, vindo de outro planeta e não sabe sequer o que diz, nem o que defende.
Decerto também desconhece que as aves, com ou sem fome, se reproduzirão na mesma, embora a diminuição, ou anormalidades das suas crias, se deva à fraqueza das mães, o que é crueldade ainda maior...
A histeria geral sobre as doenças transmitidas por estas aves, não é mais que o estúpido e egoísta argumento de quem se acha dono do pedaço e dos frustrados desta espécie humana de decadentes valores que ainda se acham superiores, por terem o ignóbil poder de exterminar tudo o que os incomoda .
Os vírus apanham-se por todas as bandas, desde os transportes públicos, às escolas, porque eles são os oportunistas da poluição, da contaminação do ar, dos alimentos e dos solos. O nosso organismo é dotado de defesas que hoje em dia estão enfraquecidas pelos reflexos ambientais contaminados, pelo excesso de medicamentos e antibióticos, pelos venenos que se usam nos solos etc, etc, mas em vez de se culparem os verdadeiros responsáveis, culpam-se as aves, porque sai mais barato, é mais fácil e não é preciso ofender, nem perder as benesses recebidas dos verdadeiros responsáveis.
Ora se ter aves famintas a alimentarem-se daquilo que encontram e que lhes não é adequado, é ser um bom cidadão, macacos me mordam, porque eu não quero ser isso!
Fiscalizem-se os carteiristas, os corruptos da nossa praça e tantos outros parasitas que por cá vegetam, mas não roubem a liberdade às pessoas de bem que são todos os dias enganadas e extorquidas sem se ouvirem os seus protestos...
Fiscalizem-se antes as multinacionais, quem as defende e por elas é apoiado, como a Ordem e a Associação dos Nutricionistas, financiadas pela Coca Cola, MacDonald´s e farmacêuticas, mas não nos imponham mais regras nem coimas, porque tudo isso só serve para engordar parasitas e enganar os trouxas.
O nosso povo, vergou-se, perdeu a voz, a vontade e a consciência. Envelheceu prematuramente, tornou-se depressivo, hipocondríaco e desgraçado, o que favorece muitos indivíduos que se escondem em bondades e hipócritos altruísmos que pelas suas "doces palavras", convencem os menos atentos e informados.
Não quero, não devo, nem posso integrar manadas de distraídos, omissos e "Velhos do Restelo", ao mesmo tempo que não admito que se encurralem os pombos vivos das armadilhas da Câmara, no reptilário do zoo de Lisboa, porque nem os répteis merecem ser prisioneiros, nem as aves o triste fim de lhes servirem de alimento, sem se poderem defender, pois até as penas das asas lhes cortam. A evolução de um povo, começa pela sua contestação, pela sua capacidade de raciocínio, informação e pela habilidade de saber separar o trigo do joio, mas sobretudo pela sua força consciente de dizer NÃO!