quarta-feira, 16 de outubro de 2019

POR FALAR DE GALGOS...


Resultado de imagem para galgos portugal


 

   Quando se fala de Galgos, vislumbra-se de imediato um negócio sujo e obscuro, do qual a TVI teve a coragem de levantar o véu, embora sem ir directamente ao fundo da questão e às implicações indecorosas que estes negócios de maltrato animal têm no esbanjamento de dinheiros públicos, assumidos descaradamente por certos municípios.



   Todos sabemos que a maior parte das Câmaras deste país, são regidas por partidos e portanto, dizer-se que certas actividades se situam "longe das autoridades", como foi dito na referida reportagem do dia 15 de Outubro do corrente ano, não só serviu, para atirar areia para os olhos (já de si turvos), da maioria dos submissos contribuintes, como é redondamente falso!

 As corridas de galgos, têm ocorrido na maioria das feiras de caça, agricultura, pecuária, pesca, turismo, etc., feitas no nosso país de norte a sul, ano após ano e todas elas apoiadas e organizadas pelos respectivos poderes locais, senão, vejamos alguns exemplos:

   Macedo de Cavaleiros, Ponte de Lima, Castro Verde, Beja e muitas outras que trazem nos seus programas corridas de galgos, entre outras demonstrações igualmente violentas de caça, exposição de espécies cinegéticas, falcoaria, etc.

  Às alegadas Associações de Galgueiros, como a legislação não contempla os seus registos unicamente pela prática da exploração dos cães, mais precisamente galgos, apresentam-se como associações de caça ou lebreiras, como acontece entre outras, com a Associação Galgueira e Lebreira do Norte, com inúmeras actividades,  campeonatos nacionais de galgos pelo país inteiro, divididos por idades, sexos e até proveniência, como acontece com as exibições de animais importados em corridas. 

   A Federação Nacional de Galgueiros que abrange as referidas associações de "caça", promove treinos privados com lebres vivas e a Associação Galgueira e Lebreira de Vila do Conde, integra nas suas actividades "desportivas" a mesma conduta, alertando para o facto de serem espectáculos para "estômagos fortes".
  Em 2011, houve uma largada de lebres vivas numa reserva dos arredores de Cuba, onde participaram galgos de canis de Alenquer, Faro, Albufeira, Famalicão, Cadaval, Rio Maior, Vila do Conde e Venda do Pinheiro e perante a quantidade de cães envolvidos, podemos imaginar quantas dezenas ou mais de lebres foram trituradas para gozo da assistência, mas como é evidente, o espectáculo não terá sido aberto, porque só em 2015, a câmara CDU inaugurou a maior pista de corridas de galgos do país, construída com dinheiros públicos, numa zona envelhecida e carenciada, mas cujos valores despendidos na sua construção, não foram divulgados ao público.          Contudo, não é só em Cuba que existe uma infraestrutura deste tipo, porque também em Castro Verde há uma pista municipal para corridas de galgos, entre outras a que não tive acesso. 
  Na feira de Mértola, a realizar no próximo dia 25 do corrente mês, a organização e responsabilidade, pertencem igualmente à Câmara Municipal e com ela colaboram, além de Associações de Galgueiros do Sul e de caça, entre outros, o Agrupamento de Escolas de Mértola. 
   Pelo menos, duas ou três corridas de galgos serão realizadas durante a feira, junto à escola e os eventos de caça serão diários, para que o gosto de matar e ver sofrer, se integrem no dia a dia das crianças e adolescentes, como actos pedagógicos dignos de serem perpetuados e banalizados como divertimentos sadios para as novas gerações. 
    Perante isto e como o texto já vai longo, não entrarei no real tratamento deste cães, na curta e difícil sobrevivência dos animais envolvidos, nos treinos selvagens, no negócio das apostas clandestinas, na venda de sangue, etc, visto o programa da Alexandra Borges e o posterior debate, terem sido elucidativos quanto baste, sobretudo quanto à legislação omissa e tendenciosa de 2014 sobre protecção de animais de companhia, tão bem explicada pelo advogado Garcia Pereira, mas que só conseguiu ser aprovada, com a introdução das tão oportunas salvaguardas que ao serem impostas e adicionadas aos textos originais do PAN e BE pelos restantes partidos adeptos destas práticas de maltrato animal, permitiu ao Parlamento reprovar posteriormente a pretensão de se proibirem as corridas de galgos e até a tauromaquia e seus derivados em Portugal.
   Perante tudo o que se viu e ouviu, deveria restar no povo português, uma enorme preocupação, quanto às habilitações académicas e literacia dos nossos governantes que ignoram a existência de tais espectáculos, quando eles próprios visitam essas feiras e não conseguem soletrar sequer os seus programas, onde não se escondem tais eventos, como aconteceu frequentemente durante o "reinado" do Ministro Capoulas Santos e o seu secretário de Estado que manifestaram total desconhecimento sobre semelhantes espectáculos, a que provavelmente assistiram, mas que já não se recordam. 
  Enfim, talvez após este incidente televisivo que tanto contrariou os envolvidos, apareça finalmente uma legislação apropriada à continuação destes espectáculos, com regras tão eficazes como a das touradas que estabelecem as regras de bem massacrar touros e cavalos, mas cuja fiscalização não repara, porque a corrupção galopa de alto a baixo neste país de governantes tão honestos, democráticos e bem falantes que este povinho explorado elege por ignorância, medo, ou simples  tolerância, porque se acostumaram tão bem aos cabrestos que lhes foram colocando, ano após ano que pelos vistos, lhes passaram a assentar que nem luvas...

sábado, 10 de agosto de 2019

EMERGÊNCIA ENERGÉTICA



Resultado de imagem para combustiveis



   Portugal tem reservas de combustível para mais de 3 meses, disse o ministro Cabrita!


    O que tem a greve dos camionistas com isso?

 

   Será que os camiões sabem nadar e vão carregar "pitrol" aos "pitroleiros" mar adentro?


   Quando se tem uma profissão de risco e de responsabilidade, com um salário base baixo, não  poderá envelhecer nem estar doente, porque o que  irá receber, será a miséria que tanto jeito dá à Segurança Social, visto os "extras", serem apenas "complementos" que só existirão, enquanto o trabalhador render...


    Só não vê quem não quer, a manipulação terrorista que tem sido feita semanas a fio, pela comunicação social e só não percebe quem não quer, a promiscuidade que tem unido os nossos sucessivos governantes ao patronato mais abastado, como se verifica em relação à poluição causada pelas celuloses, ou com as empresas de exploração mineira, na sua grande parte estrangeiras e outras tantas empresas que nem vale a pena mencionar, mas que continuam a explorar alegremente a precariedade dos seus funcionários, enquanto os impostos sobre os lucros, não são pagos cá dentro. 



  A honestidade, o compadrio e a total falta de transparência, são o cancro que ao longo dos anos, tem corroído os alicerces deste país, com o seu povo violado a cada passo sem escolhas, união, dignidade e força para exigirem os seus direitos e quando finalmente o conseguem fazer, as Forças de Segurança estão a postos e neste caso dos camionistas, até o exército virá, não só para os pressionar, como até substituir sem a devida experiência e formação para tal!


  Os camionistas conseguiram, ao fim de mais de 20 anos de marasmo, fizeram ouvir as suas vozes e independentemente de qualquer argumento, não consigo deixar de os admirar, mas quando vejo o drama orquestrado por um governo para quem o voto interessa mais que a ética e que tudo fez para que o país entrasse no caos, incitando à violência e ao açambarcamento ilegal, sinto-me assustada e penso que afinal, há uma perigosa trupe de incendiários, cuja palavra consegue incendiar ódios e explorar da forma mais repugnante e imoral, os sentimentos egocêntricos mais básicos de um povo, para dele obterem dividendos! 


  Qualquer greve é lesiva a alguém, ou a alguns, mas em nenhuma das que aconteceram até hoje, se verificou o circo e o oportunismo feito a estes profissionais que ao contrário dos enfermeiros, a quem não foram decretados 100% de serviços mínimos, não irão ser pagos durante os dias de luta,  pelo que a sua duração, nunca poderá ser longa e os ministros poderão enfim ir de férias  descansados, porque se estiverem doentes, vão ao privado e sempre terão um bom cargo à espera, quando deixarem os seus ministérios. 


quarta-feira, 3 de julho de 2019

OS GALGOS NÃO SÃO CãES




      AFINAL  OS GALGOS NÃO SÃO CÃES!



Resultado de imagem para corridas de galgos em portugal


   Conseguiu-se finalmente em Portugal, uma legislação que defende alguns animais e permite que se explorem outros, porque pelos vistos, tal como acontece com o povo desta terra, nem todos merecem ser bem tratados!

  "O cão é o melhor amigo do homem", mas não é assim que pensam alguns deputados da nossa Assembleia e por incrível que pareça, são sempre os mesmos carrascos insensíveis, cujos interesses pessoais se sobrepõem às leis e à visão honesta de certas situações condenáveis, sujas e mais que evidentes. 
   Sempre me pareceu que um Galgo era um cão com necessidades semelhantes a qualquer outro, cuja constituição física tem limites, mas cujo  abuso da sua resistência, lhes limita a saúde, o bem estar e a própria vida. 
  Quando um cão é abusado pelo seu detentor, chama-se a polícia, coisa que nesta terra de impunidades pouco resolve na maior parte dos casos, mas para certas classes altas, amigas do poder e cujas responsabilidades se perderam no lodo da corrupção e do compadrio, os Galgos não são cães, mas sim objectos úteis à especulação das apostas ilegais e dos interesses de minorias abastadas, interesseiras e das já bem conhecidas e frequentes trocas de favores.
  No secretismo dos "clubes"de caça que agora também viram o proveitoso furo de treinarem cães para corridas, vale tudo, mas se os ditos "atletas", não cumprirem os objectivos, não aguentando os choques eléctricos, drogas e todas as "técnicas" desumanas de que são alvos, deixam de prestar e tornam-se pouco  rentáveis, tal como acontece aos mais "incompetentes"das matilhas de caça que por aí se vão encontrando mortos, ou espalhados a monte por terras de ninguém. 


   Assim funcionam os "representantes" de um povo amorfo, analfabeto e alheio a tudo o que não sejam os seus umbigos, mas que ao contrário dos cães, faz gosto nos treinos a que o sujeitam!

  Assim se compôs, com a colaboração deste  povo cego e domesticado, a tal Casa da "Democracia" que há muito exige reforma e assim perduram e sobrevivem os dinossauros que dão lustro a certas bancadas,  espoliando os nossos já parcos recursos e enxovalhando descaradamente, toda uma nação! 
   

quinta-feira, 16 de maio de 2019

GUINÉ BISSAU


  Image result for guiné bissau





   Ai, Guiné!





  Sol ardente em terra vermelha,
  Gente morena vestida de cor,
  Escravos de outros e filhos que partem,
  Bajuda descalça de ilusões perdidas...

  Ai, Guiné!
  
  Bissau, Gabu, Bafatá e Bolama.
  Mar azul e Bijagós...
  Tabanca cheia, barrigas vazias,
  Menino nas costas e rostos cansados
  Mulheres mães e olhos tristes,
  Velhice precoce, infância esquecida!

    Ai, Guiné!

   Mercados, barulho, manga e mancarra,
   Corás ao ritmo lento das memórias
   E teu povo no coração...

    Ai, Guiné!

   Magia escondida, saudade que mata...

    

quarta-feira, 13 de março de 2019

ÉTICA E AUDIÊNCIAS

   


    Sempre achei que os cravos de uma certa "revolução" serviram de pouco, porque continuou a desigualdade, a injustiça, a corrupção e a propositada cegueira de um Estado que prega valores atraiçoando-os despudoradamente a cada passo...



 






Resultado de imagem para manifestações feministas
  

   Por mais triste que seja, esta é a sina que nos resta por sermos obedientes, comodistas, inseguros e nada exigentes, quanto ao efectivo crescimento  intelectual e vanguardista que o passar dos tempos continuamente nos exigem.


   Em Portugal, a mulher comum, continua a ser o objecto negociável, traída nos seus direitos e dignidade, escrava de trabalho árduo mal pago e mola essencial à construção de uma economia que apesar de anémica, continua enriquecendo alguns, mas passando sucessivamente ao lado de quem dá o seu suor pelo pão de cada dia. 


    A cultura, a informação, o raciocínio e a acção, são as maiores ameaças para certas sociedades arcaicas que ainda fazem questão de dominar  através de falsas retóricas moralistas, ou até religiosas, com a adequada conivência dos midia, cuja disfarçada manipulação, é a arma inequívoca e fundamental para tais projectos de controlo e supremacia  machistas. 


    Não é portanto de admirar que após a explosão das contestações no dia da Mulher, tivessem surgido logo, certos programas abjectos nos dois canais mais populares da nossa televisão que infestam, desacreditam e violam as mais justas reivindicações exigidas por quem lutou e se manifestou por todo o país, insurgindo-se contra uma justiça bolorenta que não responde, nem protege quem por ela implora. 


   As palavras e as tímidas presenças dos nossos governantes em certos eventos em prol da igualdade de género, são apenas mais uma das comédias tão politicamente correctas que apenas revelam o estado de abandono a que este povo tem sido votado ao longo dos anos, mas também a ignorância e a falta de interesse que nos torna vítimas e culpadas/os da nossa pacatez e do estado de dormência em que nos deixámos afundar.


    Constata-se assim que estes programas   indignos e ofensivos à dignidade feminina, não passam de manobras reaccionárias de suja humilhação, propositadamente lançados após o mais aguerrido 8 de Março que recordo em Portugal e que teve como rastilho as declarações homofóbicas de um juiz e a morte de 13 mulheres em pouco mais de dois meses.  



  Que tipo de gente se presta a estas actuações públicas, divertindo quem, inconscientemente ou por simples ignorância, contribui para os colocar no topo das audiências?



  Que tipo de comunicação social e de Entidade Reguladora  é esta que permitem que se arraste em praça pública a dignidade de quem não a tem, mas cujo evidente atraso cognitivo é assim  explorado e tão engenhosamente exposto?


   Quem são estes "machos" bouçais de trazer por casa que escolhem fêmeas como quem apalpa fruta no mercado e que mulheres são estas que se prestam a tão vergonhoso papel?




   Acaso as suas vaginas famintas passaram a comandar os seus cérebros ocos, ou acharão que por aparecerem no "boneco", se tornarão heróis e heroínas, cuja fama se perpetuará em revistas de wc? 



   Nascer mulher, é o privilégio de ser mãe, de educar o mundo com a nossa pegada firme,  transpondo os obstáculos com um sorriso, mesmo quando o caminho é árduo e incerto, mas sem nunca baixar a bandeira da dignidade e da força! 

    Jamais a obediência nos deverá derrubar, nem o pranto servir de desculpa ao enxovalho, apatia e resignação, porque ser mulher, é a determinação e o vigor que irrompem das nossas fragilidades, para que possamos seguir em frente com  respeito por nós próprias, a auto estima sem mossa, a consciência limpa e o orgulho de ser quem somos!



   

    


 
    

   

   

      

   




      

segunda-feira, 4 de março de 2019

FEMINISMO E IGUALDADE

                             Resultado de imagem para violencia domestica    

Tenho uma certa dificuldade em definir a palavra "feminismo", porque me parece    limitar-se apenas à defesa de um sexo, em detrimento do outro, contudo, a enorme desigualdade e descriminação que ao longo dos séculos, tem rotulado as mulheres de todo o mundo, como seres sem alma nem direitos, usadas e abusadas por ideologias retrógradas, imorais e injustas, talvez me façam unir forças a essas hostes "feministas", defendendo aquelas cuja voz calaram pela violência e o medo, obrigando-as apenas a subsistir num mar revolto de ameaças, dores e morte.


      As agressões físicas e as marcas por elas causadas, são o  que melhor denunciam o percurso de uma relação familiar ou amorosa, mas embora as cicatrizes persistam, mesmo que a memória as teime ressuscitar, em momentos do passado, ou ainda presentes, há um outro sofrimento mudo e latente, como uma braseira de fogo lento abanada por palavras cruéis e destruidoras que minam diariamente os alicerces de egos já de si frágeis e vulneráveis, decompondo e anulando sonhos, projectos e esperanças, num labirinto de sentimentos sem dia nem noite que culminam num fosso profundo e permanente, aligeirado por antidepressivos e químicos que apenas permitem dias iguais e noites em claro...


    A manipulação psicológica, é a mais difícil de definir e até entender, porque humilha, trai e engana, reduzindo a pó a lúcida percepção das realidades, da auto estima e do respeito, numa espiral de dúvidas e total anulação do ser.

   A violência psicológica é surda, sorrateira e perversa, porque domina e destrói lentamente, transformando seres lúcidos e inteligentes em marionetas movidas por fios invisíveis que dificilmente se quebram, mas cujas lembranças se vão enrolando num papel tão fino que rasga ao mais ténue estremeço. 


   A resignação é o que sobra a quem não quer, não pode, ou não consegue virar o jogo, mas que se enfrenta sem atenuantes nem medo, entendendo finalmente  que a sua anulação matou o amor, a cumplicidade e o seu próprio futuro. 


     Em Portugal, a violência doméstica, foi finalmente reconhecida, desmascarada e exposta, mas ela corre nas veias dos "marialvas" que usam a mulher como um objecto imprescindível ao seu conforto, heróica parideira sempre disponível aos seus desejos e trabalhadora sempre submissa e incansável 


     O Estado sempre se alheou aos dramas de uma sociedade que deveria proteger, porque a economia precisa de mão de obra barata, ao mesmo tempo que a protecção das agredidas dá despesa e abre os olhos às que se querem caladas, mas os tempos são de mudança, embora os guetos de ignorância teimem subsistir e se alimentem de um faz de conta abjecto que pouco já cola aos mais esclarecidos.


      Não podem haver segundas chances para quem maltrata e se a justiça falha, como tão bem sabemos, faça-se a justiça na rua, no voto, no dia a dia e sempre, porque nem a Bíblia, nem qualquer juiz farsante, nos poderão mais calar. 


     Eu lutei sozinha, quando era normal ser-se submissa e venci!

             

     


    


            



                                                                                                                                                   


domingo, 27 de janeiro de 2019

RACISMO?

          Em Portugal ninguém é racista!


Resultado de imagem para racismo e xenofobia



    A descriminação é de tal maneira rara que ninguém diria que fomos um país colonialista.       
   Os portugueses não distinguem cores nem credos, mas quem cá chega de outras bandas, bolsos vazios e de outra cor, recebe um "visto gold" para uma mansão de luxo forrada de plástico e chapas de zinco em qualquer gueto imundo de esgotos a céu aberto, até ao fim dos seus dias...
   Difícil será não ser explorado e mais ainda integrar-se numa sociedade que lhes coloca de imediato o rótulo de qualquer coisa serviçal ou nada lisonjeira, mesmo que a maior parte deles, apenas traga em mente a vã ilusão de uma vida pacífica, num país  melhor.
   
   O racismo é o vírus que muitos escondem, usando argumentos, deturpações e pontuais experiências daquilo que um dia presenciaram, ou simplesmente ouviram falar. 

  Há quem se vanglorie por não ser racista, mas não aceita sequer a hipótese de um dia poder vir a ter um neto mulato, ou reconhecer um filho negro, fruto de qualquer devaneio leviano e ocasional. 
  Há ainda quem não tenha ainda entendido que independentemente da cor da pele, ou da religião que professam, muitos já aqui nasceram, ou vivem e por isso, também têm direito ao protesto, já que directamente, ou não, contribuem como qualquer branco, para os avanços e retrocessos deste país.
   O racismo, mais direccionado para certas etnias e comunidades pouco instruídas, não deixa de ser igualmente alargado às classes sociais caucasianas mais desfavorecidas, mas se uns são aceites e até vistos de forma mais condescendente e por vezes  compassiva, aos outros, por diferença cromática, já se colocam ressalvas e até se sugere que voltem para as suas terras, mesmo que esta  aqui, seja mesmo a sua...

   Senti na pele o racismo, numa noite, quando regressava a casa das aulas em Bissau, onde fiz cooperação durante 2 anos.
  Fui abordada por um pequeno grupo de jovens que me chamaram "tuga", perseguindo-me e mandando-me insistentemente voltar para a minha terra.  
  A Guiné Bissau, já então independente, foi o meu primeiro passo em África e foi  com isso que os confrontei. 
  Falei-lhes de opressão, de igualdade e do nosso colonialismo, mas sobretudo da educação que foi o que lá me levou. 
   Falei-lhes também do meu país e de como tinha sido difícil cá viver e compreenderam que afinal a nossa diferença resumia-se a nada, embora esse nada, se resumisse a um simples tom de pele, mas  que me permitiu as oportunidades que eles nunca tiveram e que hoje verifico que nem os cravos de uma revolução, lhes conseguiu ainda dar.,. 
    Depois dessa noite, passei a ter companhia para casa com longas conversas que me permitem hoje dizer, com toda a certeza que não é o "hábito que faz o monge", ou melhor, não é a cor que nos diferencia, mas sim esse preconceito abjecto que nos afasta.

   Por incrível que pareça, não foi nem a cor, nem a pele branca que me fizeram regressar em pranto a esta que, apesar de ser a minha terra, sempre me fez sentir estrangeira, mas sim algo devastador que não escolhe raças nem credos e que dá pelo nome de Malária! 
   
   O racismo é um vírus que percorre o mundo e a falta de consciencialização das sociedades durante séculos de obscurantismo que persiste, mais ou menos explícito, mas que dificilmente se regenerá dessa injusta e aberrante maleita

   Para quê condenar ou defender forças policiais que agem munidos de escudos e armas, contra gente com ressentimentos antigos que expressam a revolta à marginalidade de que sempre foram vítimas, com pedras, contra bastões e balas de borracha?

   Não estarão também esses profissionais de farda, formatados por um sistema obscuro tão politicamente correcto que não admite que negros se manifestem, em terra de brancos?

    Que tipo de cultura, formação, oportunidades ou ambiente se tem dado às comunidades jovens negras, nascidas e criadas em Portugal?

   "Poucachinho", digo eu que trabalhei alguns anos em turmas de currículos alternativos,  frequentados na sua maioria por jovens negros. 
   Algum desses meus ex alunos conseguiram pelo menos concluir o 12º ano? 
    Não, porque era preciso entrar no mercado de trabalho depressa para que um salário miserável, os sustentasse e à família, nos bairros lamacentos e degradados onde vivem, mas também porque a escola, onde cedo enfrentaram as desigualdades, era de todos, menos deles...

    Disseram-me uma vez que sou branca por fora e negra por dentro e acredito que assim seja.
   Nasci numa família pouco harmoniosa, mas que se intitulava anti racista, embora hoje me aperceba que partiram deste mundo sem saberem que toda a vida partilharam uma ilusão desempoeirada, útil e oportuna, mas falsa nas práticas e lapsos do dia a dia... 

   O retrocesso verificado nos nossos tempos, é fruto de mentalidades tacanhas, egoístas e de um nacionalismo ridículo que não pode ser aceitável num mundo em convulsão em que as contradições, desigualdades sociais e económicas grassam de forma selvagem e imoral.   

  Somos apenas grãos de areia nas vastas dunas de um planeta que destruímos a cada passo, sem  enxergar que o mundo é de todos e que nem os muros, ou fronteiras que teimamos construir, ruirão com estrondo, perante qualquer sismo, convulsão ideológica, ou ordem universal...