segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

ANO NOVO

   Acabou 2017, mas será que podemos virar a página e perdoar-lhe?


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   Não, jamais o poderemos esquecer, porque foi ele, com todo o seu poder destrutivo que nos uniu na dor da perda alheia, entre as labaredas e as culpas sem castigo que nos consumiram as almas perante a voracidade das chamas, os mortos e o  desigual combate.

   Somos um povo "manso", onde nem os ataques  deste mundo acontecem, porque os terroristas já cá estão, comandando-nos há décadas...

   Somos o povo onde os grandes prosperam com a passividade dos fracos, enredados no medo e nas palavras caladas que herdaram de 40 anos de ditadura, aos quais se continuaram seguindo todas estas "democracias" de trazer por casa... 

  Somos ainda os acorrentados à precariedade de emprego, aos baixos salários e às vergonhosas pensões, mas que se revoltam mais com um "penalti" mal marcado, do que com as suas vidas medíocres. 

   Somos um povo carente de afectos que bajula qualquer político esperto que com duas palavras e uns abraços, nos faça pensar que fará milagres...

   Somos os devotos de Fátima, aqueles para quem  a canonização de três crianças sonhadoras e analfabetas lançadas aos interesses mais ferozes e bem guardados de uma época de obscurantismo, nem sequer nos suscitam hoje dúvidas e menos ainda questões...

   Somos aqueles para quem a mulher fica em segundo plano, com a sua lendária submissão que a torna muitas vezes saco de pancada sem defesa, nem direitos. 

   Somos ainda o país das leis para "inglês ver", cujas propositadas lacunas permitem que nem os ditos "seres sencientes" não humanos que tão falsamente se propõem defender, continuem a ser explorados, abandonados, mortos  e torturados, perante os coniventes silêncios de quem as cozinhou. 

   Somos um país cujo sol brilha por entre os troncos nus das árvores queimadas e das casas sem tecto, dos sem abrigo, do racismo encapotado e da caridade que chega a muitos, menos àqueles que tão desgraçadamente dela precisam. 

   Somos o destino turístico de uma Europa que nos suga com asas de anjo e achamos que é assim que tem que ser, porque só assim subsistimos, somos notados e nos dão importância...

  Somos os adormecidos nessas passagens de ano que se sucedem em rituais de vãs esperanças, mas que sucumbem nos primeiros dias de Janeiro quando a rotina nos volta a sufocar.
  
   Somos também aqueles, para quem o engenho, as capacidades intelectuais e o valor, raramente serão reconhecidos, se o visado não souber gatinhar por entre as vielas imundas deste sistema hipócrita e caduco que nos governa a nós e ao Mundo.

   Somos tanto e tão pouco que nem a justiça nos ouve e se morrermos numa sala de espera lotada de qualquer hospital das redondezas, ninguém nota, porque não temos pátria, temos apenas "donos" e aprendemos a obedecer-lhes...