sábado, 29 de abril de 2017

CÃES PERIGOSOS?


 Resultado de imagem para caes potencialmente perigosos em portugal


    Alguém me sabe explicar o que é uma "raça potencialmente perigosa"?

     Se não sabem, eu também não!


   Sei, no entanto que tenho várias cicatrizes, feitas por alguns cães que acolhi e que não sendo considerados de "raça potencialmente perigosa", a insensatez de quem os criou, tornou-os violentos.

 

   Todos eles foram tirados da rua. 


   Todos eles conheceram o lado mais cruel da espécie humana.
   Todos eles precisaram de tempo para confiar e nem todos eram de grande porte, ou considerados "perigosos". 


    Nem todos tinham raça definida, mas todos se integraram na minha família. 

   Não preciso mostrar valentia, nem ter um guarda-costas, apenas necessito que me entendam os silêncios, as alegrias e me confortem as mágoas, como tento curar as deles...
    
   Preciso também que o tempo deixe de ser para eles esse tempo de agressões e castigos e os faça entender que chegou a hora do amor.

   Um cão treina-se com o carinho do dia a dia.

   Treina-se com afagos e nunca com o chicote.

   Treina-se de olhos nos olhos e com o aconchego nas noites frias.

    Treina-se com recompensas, sem gestos bruscos nem gritos, sobretudo quando nos chegam adultos, estigmatizados pela vida, ou marcados por lares que não foram para eles os seus.

    Que os seus "repentes" não nos façam nunca desistir,  porque isso é perder a fé na nossa capacidade de amar o próximo.

   Desistir de um ser a quem o medo fez perder a confiança, é duvidar da nossa força interior para mudar o rumo das coisas, mas se alguém acha que um animal que nos ataca precisa de ser perdoado, engana-se, porque foi a nossa espécie que errou com ele e será ela a necessitar do seu perdão!  

     As minhas cicatrizes são apenas memórias de orgulhosas conquistas e cada uma, conta a história de uma vida.

    Cada uma, encerra a saudade dos que já partiram, mas também a transformação daquele que ainda hoje me acompanha, enroscado todas as noites aos pés da minha cama e cuja agressividade morreu, com o equilíbrio que a paz lhe trouxe.

    Conhecer os animais que nos acompanham, é estar atento às suas frustrações, aos ciúmes e à personalidade de cada um deles.

    Conhecer os nossos companheiros, é sobretudo não os usar, não exigir que sejam perfeitos, nem os expor a desnecessário stress, porque conviver com eles, é apenas ser parceiro e jamais seu "dono"!