sábado, 25 de julho de 2015

Memórias de fel com açucar


Memórias de Fel    com Açúcar



Hoje precisava mais uma vez escrever-te!
E o "mais uma vez", não são apenas três palavras ao acaso, mas sim a saudade e o eterno sentir que escondo, no pedacinho mais fundo do meu ser.



                     25  de  Julho de 1983

  Foi o dia da nossa despedida e o ano que marcaria cada sopro da minha existência atribulada. 
  Vivemos o medo, a descrença, a esperança e a tua dor física resignada que nem a Ciência, nem os meus cuidados e carinhos curaram!
   Foste o meu eterno bebé rosado, perfeito demais para o mundo perverso onde chegaste, naquele Agosto de 1980, com os teus imensos olhos da cor da noite, o sorriso fresco e os teus cabelos negros cacheados que a doença fez perder e a tua silhueta frágil que resistirá na minha memória, até ao dia do nosso eterno reencontro.
   Esqueceremos então as tuas e as minhas dores e repetirei mil vezes o nome que escolhi para ti e que tu abreviavas, por ser difícil demais pronunciá-lo, na tua linguagem atrapalhada.
  - Ágata...!
   E então, não mais existirá, nem a doença, nem o medo do "adeus",nem esta saudade atroz que me consome e que apenas embrulhei num papel fininho que teima romper-se, nas noites vazias e que conserto em cada manhã, para se voltar a rasgar durante os meus sonhos e memórias.
   Voltarei a escutar a tua voz pequenina, como quando te beijava a face tenra e me apertavas as mãos para que não me afastasse, mas foste tu que partiste, como sempre soubeste que seria, varrendo os meus sentimentos, porque precisavas de voar mais alto e ensinar-me que a vida nos atraiçoa a cada esquina e que é preciso transformá-la, mudando de rumo e ver o que nos escondem, apagando a luz persistente da passividade e da ilusão . 
   Mudaste tudo, quando partiste!
   Mudaste-me a vida e corrigiste-me o passado, mostrando-me outros rumos e verdades que não queria antes enxergar e transformando tudo em inabalável força e coragem para combater fracassos, de espada em riste, porque ser mulher e mãe, é ser maior, carregar o mudo nos ombros e avançar, com ou sem medo, mas com certezas!

    Até um dia, Agui!  
     

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Apenas um gato!

APENAS  UM  GATO!

Apenas um gato, apenas mais um animal sem dono!
Apenas uma vida que calhou nascer sem protecção! 

Mas será que uma vida pode ter "dono"?
Há mais de 1 século, achava-se que sim, mas hoje, será que podemos continuar a pensar o mesmo?
Não, porque todos somos demasiado imperfeitos para tal, por isso, em vez de nos acharmos "donos", deveríamos portar-nos apenas como família.

E se essa "vida" for diferente das outras da sua espécie, ou melhor, se for portadora de deficiência?
Bem, aí, fazem-se escolhas e tomam-se opções, conforme a sua espécie.

E se for "apenas um gato" que nasceu diferente dos outros da sua espécie?
Para muitos, a opção tomada não causa problemas de consciência, mas para outros, não existem escolhas a fazer e a opção é clara, porque sabem que apenas são "donos" dos seus sentimentos e por isso os respeitam.

 O Oásis era "apenas um gato" que nascera uns meses atrás, com a coluna vertebral deformada e sem conseguir andar, num hotel de Cabo Verde.
 Que incómodo e que nojo, vê-lo arrastar-se com as feridas cheias de moscas, pingando urina no empedrado junto à piscina e vasculhando comida nos caixotes do lixo!
 Já o tinham condenado à morte, mas os jardineiros demoraram, porque tinham demasiados afazeres e ele, lá foi lutando para sobreviver, arriscando dia após dia, talvez porque ouviu algures a palavra esperança e acreditou nela...
  Diz-se que os gatos pressentem as coisas e que a sua energia é especial e acredito que sim, porque nos conhecemos logo na manhã do meu primeiro dia de férias, à porta do meu quarto e os seus enormes olhos verdes, devem ter reconhecido os meus da mesma cor, achando-os talvez familiares.

 E foi aí que eu aprendi que as diferenças não existem, mesmo quando se trata, "apenas de um gato"!

 Durante a minha semana de férias, conheci amigos parecidos comigo, colocámos-lhe o nome e  percebemos que não era possível metê-lo num saco e entrar com ele no avião de regresso e menos ainda tratar da difícil documentação de embarque.
 Mas como ficariam as nossas consciências, depois de falhar uma promessa?
 Como seria ter negado o direito à vida, a um ser com tão parcos recursos?  
 Conseguiríamos dormir em paz todas as noites, sem os pesadelos do seu sofrimento? 
 Eu, não, porque esse gato, deu-me uma lição de vida e não se podem esquecer jamais os nossos maiores mestres!

Jamais se pode desistir e esses desconhecidos que "apenas um gato", conseguiu transformar em meus amigos, ficaram mais alguns dias por lá e conseguiram alguém para o cuidar.
Voltei de férias com a firme decisão de voltar por ele. 
Pesquisei, fiz contactos e da forma menos ortodoxa possível, tratei da documentação para a sua viagem.
 Pouco mais de um mês depois, comprei a minha passagem de volta, mas recebi notícias alarmantes, dois dias antes da minha chegada. 
O Oásis tinha sido abandonado no pátio sujo da sua cuidadora e estava mal, mas a veterinária local que nos apoiara, conseguiu que sobrevivesse e que ele voltasse ao hotel na noite em que cheguei, para me esperar.
 Reconheceu-me quando o chamei, endireitou-se e miou baixinho. 
Não nos largámos mais!
Estava demasiado fraco, com feridas profundas por se arrastar no chão sujo onde estivera. Tinha peles podres penduradas de onde tinham saído as larvas q o tinham deixado febril e moribundo.
Chorei muito nessa noite, mas ele estava feliz por me ver e deu-me forças para o tratar, alimentar e descansar em paz até ao dia de o trazer comigo.

Passaram vários anos, desde 2009 até hoje e continuamos juntos!
Aprendi a viver com a sua deficiência, porque após todos os esforços e tratamentos, ele nunca recuperou o andar, mas ensinou-me como cuidá-lo, pressionando-lhe a bexiga para a urina não pingar nem provocar infecções, cuidando-me nos dias mais tristes com o seu infindável carinho e mostrando-me que "apenas um gato", pode fazer milagres e tornar a vida mais bela.

OBRIGADA, OÁSIS!     
https://www.facebook.com/oasismiau?fref=ts

terça-feira, 21 de julho de 2015

INTOLERÂNCIA!


  

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  A democracia dá-nos o prazer do eterno orgasmo, sentido através das palavras que não precisamos esconder!

  Fornece-nos também os espelhos que reflectem a razão e a intolerância que nos torna "leões" na defesa das crias mais vulneráveis!
  A defesa dos sem voz, é a minha e a de cada vez mais gente por esse mundo fora, o selo da evolução humana e a negação dos erros de um passado cavernícula. 

   SOU  INTOLERANTE PARA COM ASSASSINOS E ABUSADORES!
  
 Serei eternamente extremista, porque a razão não me consegue encobrir a índole justiceira e a capacidade de reagir. 
   
SOU ANTI  "FESTA  BRAVA"!

 Porque de "festa" não tem nada e de bravura muito menos...
 E do"dejá vu" de argumentos, resta-me apenas o nojo por quem aplaude a morte e com ela se masturba em fugazes orgasmos de prazer sanguinário, revendo-se depois nos espelhos sujos dos seus mais baixos sentimentos.
   
  SER PELA PAZ E PELA NATUREZA, É SER MAIOR, SEM EMBARCAR EM LUTAS DESIGUAIS, MAS ENFRENTANDO OS SEUS PRÓPRIOS SENTIMENTOS, COMO PILAR INDESTRUTÍVEL DO SEU PROJECTO DE VIDA! 
  E  se quem mata não é assassino, ou doente, então abram-se as prisões, prescinda-se de carcereiros e aposentem-se os psiquiatras!
  No entanto, parece que em sociedades normais, ou quase, em que se pretendem diagnosticar doenças e as origens dos "transtornos comportamentais", conforme diz a Associação Americana de Psiquiatria e cujo conteúdo já transcrevi neste blog, a crueldade para com os animais, é o 1º dos sintomas, iniciado na infância e que evolui com a idade para patologias mais graves e que são sintomas de negligência familiar ou outras frustrações afectivas. 
  No entanto, mesmo não tendo sido a minha infância um mar de rosas afectivo, aproveitei o que outros não conseguiram nos seus percursos:

COMPREENDER  SEM  REVOLTA  E  PREFERIR  O  AMOR E O RESPEITO AO PRÓXIMO, QUANDO ELE O MERECE...  


Grécia

                                     

    GRÉCIA   

  À noite, na varanda do meu quarto, olhei longas horas o Partenon, esse magnífico templo iluminado, lá no alto da colina que parecia proteger a cidade e emocionei-me.
  Queria guardá-lo intacto do coração, como se fosse um sonho, contemplá-lo e trazer comigo a sua imagem gravada, como se a sua silhueta e o seu recorte iluminado na escuridão da noite, fossem só meus, como uma jóia rara, trancada num cofre- forte inviolável ...
  Depois imaginei que dele se soltava uma luz brilhante, como um raio de Sol e que a figura da deusa Atena emergia majestosa, de lança em punho, capacete e escudo, tal como nascera, parida já mulher, não do ventre de sua mãe, mas sim da nuca de seu pai Zeus, senhor absoluto do Olimpo.
   Atena, é a perfeição e a sabedoria nata que não necessitou percorrer os degraus e aprendizagens da infância, nascendo já adulta e sábia.
   Mulher /Guerreira, assexuada, ou apenas virgem por opção, ela combina a dureza e a masculinidade da guerra, com a sensibilidade dos artistas e a generosidade feminina.
  Era a sua presença virtuosa e justiceira que eu queria que surgisse de novo na Grécia e no Mundo, mas a antiga deusa, estratega e guerreira invencível, com os ensinamentos que transmitiu ao seu povo na Antiguidade e a consciência da importante função que a cultura e as artes fornecem às gerações futuras, ficou para trás como um mito, deixando apenas saudosas memórias, hoje lembradas como contos fantásticos e esquecidos, nos bastidores da corrupção e dos interesses mais obscuros...



domingo, 19 de julho de 2015

Touro Bravo






TOURO BRAVO








A erva é tenra, o verde é paz e o Sol brilhou!
O vento quebra os silêncios
E os chocalhos são a música que embala os campos...


SOU UM TOURO BRAVO!


Herói amado e odiado!
Rei dos pastos de olhar perdido.
Força bruta que o medo excita.
Gigante negro que se julga livre.


SOU UM TOURO BRAVO!


Escravo de especismo e raça de guerra inútil.
Animal, como tantos outros, explorado...

Um dia deixarei os pastos, a brisa e a música da Natureza.
Ouvirei os gritos da turba ensandecida
E sentirei a dor e o sangue que me queimará o corpo!


EU ERA UM TOURO BRAVO!


Hoje sou carne ainda viva, para diversão alheia.
Eu era o rei do prado!
Hoje sou o farrapo que tenta sobreviver.

Eu era a valentia que a dor roubou,
Trémulo e moribundo,
Resta-me a saudade do pasto verde,
A resignação aos ferros
E a dignidade perdida!


JÁ NÃO SOU UM TOURO BRAVO!


Sou apenas o fraco sopro de vida,
Num corpo que não é mais meu.
Entreguei-me ao homem que imita valentia,
À dor que me consome e à morte que tarda chegar!


JÁ NÃO SOU UM TOURO!


Sou apenas aquilo que acharam que nasci para ser,
E o que de mim fizeram ...





Teresa Botelho