quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Os proscritos da Mancha





 Eles fogem da guerra, da fome e da miséria extrema!
 São apenas rostos sem nome, sem futuro nem valor. Espoliados e prontos a morrer em terra alheia, por uma réstia de esperança!
  São as "pragas da Mancha", o canal que se tornou o símbolo da indiferença e sordidez. 
  A História, relatará um dia, estes novos holocaustos racistas e desumanos, mas não mostrará decerto nem os rostos, nem as causas e talvez ainda menos, a insanidade dos seus carrascos de asas brancas e consciências sombrias.

   As águas da Mancha, transbordam hoje do seu leito habitual, varrendo as margens de sonhos desfeitos e tingindo-as de sangue!
   Para muitos, a morte foi o fim da jornada, o derradeiro prémio que a Europa lhes ofereceu, após séculos de exploração, propositados erros e obscuras intenções .
   Quantos interesses e quantos enriquecem impunemente, com este êxodo desenfreado de gente sem nome que apenas procura sobreviver?
    Onde está o Deus que habita as grandes catedrais e cujo nome usurparam para subjugar os mais fracos, enquanto os "donos da Europa" se curvam piamente nas suas orações domingueiras enquanto descarregam para o Mediterrâneo e para além dele, os seus esgotos fétidos de poderio sem escrúpulos?
   Quem são afinal as "pragas" deste mundo?
   Os que arriscam a vida em travessias mortíferas, continuando a ser vítimas do preconceito e da exploração, ou os outros que mascaram as suas intervenções bélicas em terra alheia, apoiados por caciques traidores e corruptos que apenas servem para gerar ódio e sangue?
   Entre um verme engravatado e um ser humano faminto, sou pelo segundo, seja qual for a sua cor ou etnia, porque jamais poderei comparar a emoção que senti, quando derrubaram o muro de Berlim, como a que hoje sinto perante as infames vedações recentemente construídas, os colunatos judeus ou as cargas policiais contra quem se arrisca para subsistir em paz.  
   Lamento cada morte, cada mãe que arrisca a sorte de seus filhos, cada rosto e cada dor, mas lamento ainda mais, os omissos que conseguem dormir tranquilos, neste mundo tão perverso e desigual.
    

3 comentários:

  1. Ai Tersa.... Pobre planeta :(

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  2. Não podia concordar mais com este texto Teresa. É triste ver que o mundo que se diz civilizado consiga ser tão insensível ao sofrimento humano. Também eu me sinto profundamente triste por saber que se empurram para a morte pessoas cujo único crime é tentar sobreviver.

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  3. Excelente reflexão, Teresa.
    Um mundo como este não merece ser "catalogado" de humano.
    Nas selvas dos ditos não-humanos existe muito mais complacência.

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