A Degradação de uma Espécie!
Ah, como eu queria ser capaz de definir o que me vai na alma, quando vejo o olhar suplicante de uma criança perdida!
Ah, como eu queria ser capaz de explicar o que me fere por dentro, quando vejo um animal sofredor sem apelo nem queixas!
Ah, como eu queria debandar deste mundo cruel e incompreensível e como desejaria ser apenas a pedra que rola no leito de um riacho tranquilo!
Ah, como eu queria saber definir esse sentimento que me faz penetrar em corpo alheio e sentir as dores que não são minhas!
Nem todos conseguem carregar nos ombros a sombria culpa dos erros deste mundo!
Nem todos conseguem achar que o facto de serem humanos, os deve colocar de espada em riste, perante as indignidades que consentem!
Nem todos conseguem sofrer por quem sofre, invadindo-lhes o corpo, as entranhas e navegando em cérebros alheios como se fossem os seus...
Nem todos conseguem sentir na pele o que é ser menino no meio de uma guerra inexplicável de adultos!
Nem todos conseguem sentir na pele o que é o abandono, a fome, as feridas por sarar e a destruição da Terra.
Nem todos conseguem sentir o que um animal sente ao ser torturado, porque poucos lhe sabem ler o olhar.
Todos sabem, mas só alguns sentem...
Todos sabem que há guerras e meninos que vagueiam neste mundo sem colo, mas preferem achar que nem todos são iguais.
Todos sabem, mas deveriam saber também que o seu alheamento, os tornará menos gente...
Todos sabem que o animal, cujos pedaços saboreiam, passou por um holocausto infernal.
Todos sabem que viver atrás de grades, deveria ser para quem expia culpas e não para a ave engaiolada, o golfinho amestrado, o leão do zoo, ou o elefante do circo.
Todos sabem como deve sofrer o touro na arena, mas o sangrento gozo, não lhes permite um lapso de vislumbre das suas dores, nem a vergonha de as aplaudir ...
Todos sabem que as peles que usam, ou os sapatos que calçam, deveriam trazer anexada uma etiqueta de morte, mas a luxúria arranca-a, mesmo antes de ter sido concebida...
Todos sabem que matar o próximo é condenável, só não conseguiram ainda entender que basta viver e sentir, para se ser nosso "próximo"...
Todos sabem, mas não reparam, porque são cruelmente omissos e egoístas.
Todos sabem, mas não reparam, porque deveriam ter nascido rochedos batidos pelas ondas do mar e não gente, porque a dignidade mora na ética e não no perverso esquecimento e nos argumentos vazios...
Outro texto magnífico, Teresa. Escrito com as fibras da alma.
ResponderEliminarBem-haja por ter a grandeza das almas grandes.