sexta-feira, 17 de junho de 2016

A Colonização dos "Descolonizados"





                     A COLONIZAÇÃO DOS  

                        "DESCOLONIZADOS"

    São Tomé e Príncipe é a terra onde a Natureza floresce!

    É também a terra do "Leve leve" e tão leve que em cada canto frutas e legumes nascem espontâneamente para alimentar o seu povo amável e tão pacífico que não aprendeu ainda que para além do que a terra lhes oferece, há um mundo de direitos que lhes são negados.
   A colonização portuguesa foi o embuste religioso que permitiu e enriqueceu alguns, arrancando nativos de outras terras, para os transformar em escravos vendidos e comprados como gado.
   Esta é a mancha negra dos nossos Descobrimentos que os livros de História mascaram e embrulham no piedoso argumento chamado "Evangelização", mas que apenas deixou um rasto de subdesenvolvimento e miséria, em cada colónia ocupada.  
   Foi assim por toda a África colonizada, não só pelos portugueses, mas também por outros países europeus e após a abolição da escravatura, os povos continuaram a ser escravos da falta de preparação que nunca foi conveniente que tivessem, porque continuariam assim dependentes da raça que sempre os dominara.
    Em São Tomé, as roças, ora de café, ora de cacau, conforme as preferências e mercados da altura, eram as grandes empregadoras a custo mínimo, desses descendentes de escravos pouco ou nada escolarizados que apenas sabiam vergar-se ao peso do trabalho duro e às ordens senhoriais, mas os ventos de outras bandas, deram-lhes a independência e os senhores das roças abandonaram-nas, porque acabara o seu poder, bem como o seu direito a terras que jamais lhes haviam pertencido e das quais hoje apenas restam ruínas, para confessar a triste realidade de que os que trabalharam a terra, nunca foram ensinados a administrá-la, restando-lhes apenas a exuberante Natureza e esse mar azul, recheado de peixes, para seu sustento.
    Hoje, como por quase toda a África, os ex colonizados, continuam a ser a mão de obra barata dos novos "colonos" estrangeiros que subtilmente se voltaram a instalar, pouco a pouco...
   O salário médio de um trabalhador em São Tomé, varia entre os 30 e os 50€ mensais, mas se tiver um filho que pretenda frequentar o ensino superior, terá que pagar uma propina igual ao seu salário, o que torna a educação superior inacessível à maioria.
    O grupo hoteleiro português Pestana, instalou-se no país com um hotel na capital, outro na ilha do Príncipe e finalmente um outro, na Ilha das Rolas.
    Este último, preenche grande parte da ilha e cobra a entrada a quem entrar pela "sua praia", para visitar as magníficas paisagens e o marco que assinala a passagem do Equador. A poucos metros do hotel, situa-se a aldeia dos pescadores, onde também habitam alguns funcionários do hotel.
    Escondida numa curva do caminho de terra batida e no arvoredo, a pequena povoação, é composta por barracas degradadas de madeira e chapa, amontoadas no declive do terreno e ao longo de um pequeno carreiro que vai dar ao mar.
     O contraste entre o luxo e a miséria, é flagrante!
     O Grupo Pestana que em Portugal apoia e até subsidia espectáculos tauromáquicos, ocupou e empurrou os habitantes da ilha, sem o devido investimento num saneamento básico adequado e convivendo assim com os esgotos a céu aberto da aldeia, sem o mínimo cuidado em proteger a população vulnerável, bem como os seus hóspedes, do cheiro fétido, mosquitos e doenças que um rio de imundice provoca, paredes meias.
     A minha primeira visita à maravilhosa Ilha das Rolas, deixou-me não só apreensiva, como satisfeita por não me ter hospedado nesse "paraíso hoteleiro", mas no dia seguinte, decidi voltar numa barcaça e entrar pela aldeia, onde não se paga a"portagem"de 6€ e apenas para entender, porque é que os nativos nunca reivindicaram melhores condições.
     Conversei, perguntei e entendi porque é que em São Tomé, as pessoas se contentam e se submetem com tanta facilidade nesse "leve, leve" que a Natureza alimenta e à resignação da promessa de um futuro utópico que não chega e do qual resta apenas a eterna espera do isolamento, o medo das mudanças e o conformismo que a opressiva herança colonialista deixou enraizada no seu povo demasiado pacífico e maravilhoso.    
 
       



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