Exmo Sr Presidente da República,
Professor Dr Marcelo Rebelo de Sousa
Excelência
Solicitaram-me através das redes sociais que escrevesse a V Exª antes de hoje, dia em que haverá mais uma tourada, à qual V. Exª foi convidado, mas preferi esperar para ver e para que a minha "veia contestatária" tomasse depois o devido fôlego.
Felizmente, não pela RTP que não vejo, mas pelas redes sociais, soube que V Exª não esteve presente no Campo Pequeno e isso deixou-me um bocadinho mais bem disposta, mas se escrevi apenas "um bocadinho", é porque os anos que já vivi, tiveram o condão de me fazerem menos naif do que já fui...
Conforme escrevi uma vez sem ter obtido resposta, não votei em V Exª, nem penso alguma vez votar, porque há certos afectos que me cheiram um pouco a esturro.
Infelizmente, uma lesão num pé, não permitiu a minha presença hoje no Campo Pequeno ao lado dos meus companheiros, a quem a polícia, seguindo ordens superiores, empilha atrás de grades, como se fossem feras perigosas, ou mercenários terroristas.
Choca-me profundamente que num país europeu, uma manifestação pacífica incomode tanto quem de pacífico tão pouco tem e é por isso que nas minhas noites de insónia, quando os pensamentos se colam ao tecto aguardando o sono, este conceito de democracia à portuguesa, me perturba tanto...
Choca-me profundamente que num país europeu, uma manifestação pacífica incomode tanto quem de pacífico tão pouco tem e é por isso que nas minhas noites de insónia, quando os pensamentos se colam ao tecto aguardando o sono, este conceito de democracia à portuguesa, me perturba tanto...
Meu pai era ateu!
Eu não sei bem o que sou, mas uma coisa é certa, Sr. Presidente, apesar de ateu, ele soube ensinar-me que não existem raças, crenças, diferenças, tendências nem espécies inferiores a mim e por isso, acredito que o seu ateísmo era mais Cristão que a "fé" de quem vai à missa e se curva perante o corpo que sangra na cruz .
Li algures que V Exª não se impressionou com a morte e a sangria dos touros que viu matar em Espanha, mas não precisa ir tão longe, porque por cá há certas excepções que lhe devem agradar, embora destoem com o cargo que V Exª ocupa, mas já agora, permita-me uma questão:
Onde ficam os afectos perante a barbaridade do sofrimento de um ser senciente chamado para uma "luta" que não quis e que no final lhe custa a vida?
Se me disserem que enfrentar um bovino assustado, cuja única reacção de fuga lhe é travada pela redondez do recinto e pela vã tentativa de busca de um qualquer canto que o proteja, mas onde apenas lhe resta o medo que lhe quebra a pacata mansidão da lezíria, nesse derradeiro farrapo de força, chamado instinto de defesa, ou de sobrevivência que se debate entre o ruído da assistência, a música que lhe abafa os rugidos de dor e o sangue que lhe queima o corpo, é uma luta igual, talvez eu ache mais justo um combate de boxe, onde os "artistas" lutam com as mesmas armas e em perfeita consciência.
Senhor Presidente, não consigo enquadrar qualquer espectáculo onde os intervenientes não sejam da mesma espécie e não actuem de livre vontade e isso remete-me a outras épocas, com tradições horrendas que apenas figuram hoje nos compêndios de História, como símbolos de selvajaria e atraso civilizacional.
Se o futebol é hoje um desporto tão apreciado, há mais de três mil anos era um jogo de morte para o vencedor do jogo da bola dos Maias, onde a crença num Além compensatório e heróico, o fazia aceitar com agrado esse previsível destino, o que revela bem como a evolução da espécie humana tem sido lenta, poupando hoje os da sua espécie, mas condenando e divertindo-se com a tortura e morte das outras, talvez porque a altivez de se sentir humano, lhes aniquile a consciência e persista ainda esse tal gozo de escravizar o próximo, sem conseguir sequer vestir-lhe a pele e sentir-lhe as penas, por breves momentos...
Este foi mais um daqueles desabafos que me confortam a alma, mas como sou teimosa e de ideias feitas, nada nem ninguém me fará alterar a prosa, porque quem como eu conseguiu ser livre a pulso, numa época em que poucas mulheres o conseguiram, não "há cavalo que me derrube" e embora eu rejeite, como é óbvio que algum "asno me carregue", como quis a Inês Pereira da farsa de Gil Vicente, continuarei alerta contra tudo e todos, na defesa desses sagrados valores que tantos ainda atraiçoam sem pejo ...
Com os meus respeitosos cumprimentos,
Onde ficam os afectos perante a barbaridade do sofrimento de um ser senciente chamado para uma "luta" que não quis e que no final lhe custa a vida?
Se me disserem que enfrentar um bovino assustado, cuja única reacção de fuga lhe é travada pela redondez do recinto e pela vã tentativa de busca de um qualquer canto que o proteja, mas onde apenas lhe resta o medo que lhe quebra a pacata mansidão da lezíria, nesse derradeiro farrapo de força, chamado instinto de defesa, ou de sobrevivência que se debate entre o ruído da assistência, a música que lhe abafa os rugidos de dor e o sangue que lhe queima o corpo, é uma luta igual, talvez eu ache mais justo um combate de boxe, onde os "artistas" lutam com as mesmas armas e em perfeita consciência.
Senhor Presidente, não consigo enquadrar qualquer espectáculo onde os intervenientes não sejam da mesma espécie e não actuem de livre vontade e isso remete-me a outras épocas, com tradições horrendas que apenas figuram hoje nos compêndios de História, como símbolos de selvajaria e atraso civilizacional.
Se o futebol é hoje um desporto tão apreciado, há mais de três mil anos era um jogo de morte para o vencedor do jogo da bola dos Maias, onde a crença num Além compensatório e heróico, o fazia aceitar com agrado esse previsível destino, o que revela bem como a evolução da espécie humana tem sido lenta, poupando hoje os da sua espécie, mas condenando e divertindo-se com a tortura e morte das outras, talvez porque a altivez de se sentir humano, lhes aniquile a consciência e persista ainda esse tal gozo de escravizar o próximo, sem conseguir sequer vestir-lhe a pele e sentir-lhe as penas, por breves momentos...
Este foi mais um daqueles desabafos que me confortam a alma, mas como sou teimosa e de ideias feitas, nada nem ninguém me fará alterar a prosa, porque quem como eu conseguiu ser livre a pulso, numa época em que poucas mulheres o conseguiram, não "há cavalo que me derrube" e embora eu rejeite, como é óbvio que algum "asno me carregue", como quis a Inês Pereira da farsa de Gil Vicente, continuarei alerta contra tudo e todos, na defesa desses sagrados valores que tantos ainda atraiçoam sem pejo ...
Com os meus respeitosos cumprimentos,
Concordo plenamente contigo, principalmente no que diz respeito aos afectos...
ResponderEliminarSempre o disse e já o publiquei em vários comentários:
"Enquanto um país tiver como presidente da República e 1º ministro homens que gostam de touradas, a abolição deste espectáculo vai demorar uns tempos !!!"