quarta-feira, 22 de julho de 2015

Apenas um gato!

APENAS  UM  GATO!

Apenas um gato, apenas mais um animal sem dono!
Apenas uma vida que calhou nascer sem protecção! 

Mas será que uma vida pode ter "dono"?
Há mais de 1 século, achava-se que sim, mas hoje, será que podemos continuar a pensar o mesmo?
Não, porque todos somos demasiado imperfeitos para tal, por isso, em vez de nos acharmos "donos", deveríamos portar-nos apenas como família.

E se essa "vida" for diferente das outras da sua espécie, ou melhor, se for portadora de deficiência?
Bem, aí, fazem-se escolhas e tomam-se opções, conforme a sua espécie.

E se for "apenas um gato" que nasceu diferente dos outros da sua espécie?
Para muitos, a opção tomada não causa problemas de consciência, mas para outros, não existem escolhas a fazer e a opção é clara, porque sabem que apenas são "donos" dos seus sentimentos e por isso os respeitam.

 O Oásis era "apenas um gato" que nascera uns meses atrás, com a coluna vertebral deformada e sem conseguir andar, num hotel de Cabo Verde.
 Que incómodo e que nojo, vê-lo arrastar-se com as feridas cheias de moscas, pingando urina no empedrado junto à piscina e vasculhando comida nos caixotes do lixo!
 Já o tinham condenado à morte, mas os jardineiros demoraram, porque tinham demasiados afazeres e ele, lá foi lutando para sobreviver, arriscando dia após dia, talvez porque ouviu algures a palavra esperança e acreditou nela...
  Diz-se que os gatos pressentem as coisas e que a sua energia é especial e acredito que sim, porque nos conhecemos logo na manhã do meu primeiro dia de férias, à porta do meu quarto e os seus enormes olhos verdes, devem ter reconhecido os meus da mesma cor, achando-os talvez familiares.

 E foi aí que eu aprendi que as diferenças não existem, mesmo quando se trata, "apenas de um gato"!

 Durante a minha semana de férias, conheci amigos parecidos comigo, colocámos-lhe o nome e  percebemos que não era possível metê-lo num saco e entrar com ele no avião de regresso e menos ainda tratar da difícil documentação de embarque.
 Mas como ficariam as nossas consciências, depois de falhar uma promessa?
 Como seria ter negado o direito à vida, a um ser com tão parcos recursos?  
 Conseguiríamos dormir em paz todas as noites, sem os pesadelos do seu sofrimento? 
 Eu, não, porque esse gato, deu-me uma lição de vida e não se podem esquecer jamais os nossos maiores mestres!

Jamais se pode desistir e esses desconhecidos que "apenas um gato", conseguiu transformar em meus amigos, ficaram mais alguns dias por lá e conseguiram alguém para o cuidar.
Voltei de férias com a firme decisão de voltar por ele. 
Pesquisei, fiz contactos e da forma menos ortodoxa possível, tratei da documentação para a sua viagem.
 Pouco mais de um mês depois, comprei a minha passagem de volta, mas recebi notícias alarmantes, dois dias antes da minha chegada. 
O Oásis tinha sido abandonado no pátio sujo da sua cuidadora e estava mal, mas a veterinária local que nos apoiara, conseguiu que sobrevivesse e que ele voltasse ao hotel na noite em que cheguei, para me esperar.
 Reconheceu-me quando o chamei, endireitou-se e miou baixinho. 
Não nos largámos mais!
Estava demasiado fraco, com feridas profundas por se arrastar no chão sujo onde estivera. Tinha peles podres penduradas de onde tinham saído as larvas q o tinham deixado febril e moribundo.
Chorei muito nessa noite, mas ele estava feliz por me ver e deu-me forças para o tratar, alimentar e descansar em paz até ao dia de o trazer comigo.

Passaram vários anos, desde 2009 até hoje e continuamos juntos!
Aprendi a viver com a sua deficiência, porque após todos os esforços e tratamentos, ele nunca recuperou o andar, mas ensinou-me como cuidá-lo, pressionando-lhe a bexiga para a urina não pingar nem provocar infecções, cuidando-me nos dias mais tristes com o seu infindável carinho e mostrando-me que "apenas um gato", pode fazer milagres e tornar a vida mais bela.

OBRIGADA, OÁSIS!     
https://www.facebook.com/oasismiau?fref=ts

8 comentários:

  1. O Oásis é, sem dúvida, um gato especial e não é por não ter locomoção nas patinhas traseiras, é especial no seu olhar atento e curioso. É especial quando se delicia com os afagos. A história do Oásis é muito ilustrativa da generosidade imensa da Teresa. A Teresa é para mim um exemplo enquanto ser humano. Se todos tivessem 10% da generosidade da Teresa, o mundo seria com toda a certeza um lugar muito melhor para se viver.

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  2. Engana-se,Maria João. Há situações que apelam à minha generosidade e outras... nem por isso...

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  3. Impossível ler a história do Oásis e não se emocionar. Somos mamães de dez cachorros e muiiiitos gatinhos, cada qual com sua história e seu nome e 90% abandonados. Criamos a todos com muito amor numa pequena chácara no interior de SC. Não somos donas e sim mamães.
    Teresa, podes dar um beijo no focinho do Oásis por mim?

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    1. Sem dúvida q dou mil beijos todos os dias, por ele, por todos q sofreram abandono e tb por todas as mamãs q os cuidam com carinho. Podes tb ver a história da Usha, a cadelinha tripé q todos os dias se alegra por estar a salvo e podes ver vários outros na página do Oásis. Abraço e bem hajas.

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  4. Sem palavras, apenas com o coração. Sê feliz Oásis e um abraço à Teresa!

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  5. Fiquei encantada com a história e também emocionada. Muito feliz pelo final maravilhoso e ainda, por ter conquistado sua amizade, ainda que virtual. Impossível não compartilhar. Um grande abraço.

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